22 de agosto de 2010

ela me escreveu perguntando da exposição do warhol, se já tinha acabado. e eu, que nem gosto do warhol, mostrei interesse, disse que ia descobrir, avisava, perguntei se ela queria ir comigo. ela deu a entender que queria ser convidada. eu não entendo tão errado assim. se não quisesse o convite, não me escrevia. queria sim, só podia. pensei que essa atitude dela era de arrependimento, depois daquele papo de que você-é-legal-tem-que-ser-meu-amigo. pra ela, pessoas legais não podem namorar. elas só servem pra você ser amigo, pra ir ver o warhol. seja lá o que “pessoas legais” quer dizer, eu era legal, e não servia. não pro que eu queria. você tem que namorar pessoas chatas. talvez seja por isso que os namoros não dão certo; os namorados são chatos, daí a gente procura os amigos, que são legais. pra ela. mas eu achava que era arrependimento, agora acho que é pretensão. minha.

16 de agosto de 2010

hoje eu me senti querido, depois de abandonado. eles voltaram. me senti buscado, um ônibus de meia-viagem, antes só. bem acompanhado. senti inteiro, mas meio assim, meio em mim. e eu no meio. senti o céu de olhos puxados. eu assim que me senti voltado, pras coisas que voltam pra mim.

15 de agosto de 2010

limpar os restos da noite de alguém é extremamente desconcertante, ainda mais quando a noite anterior teve todos os elementos que geralmente são seus: sua mulher, sua cama, os lençóis que costumavam ser limpos. agora não. os personagens foram outros. a mulher já não era mais sua, nem o amigo. a sacralidade do quarto foi rasgada, e por mais que se quisesse recuperar a virgindade, não dava. foi violência demais. joguei os lençóis fora. joguei ela, joguei ele, me joguei junto. fui junto com a notícia, que recebi do pior jeito, sutil como uma bola de demolição. no estômago. sutil como uma pedra nos rins, agradável. extremamente rápido, extremamente violento. jogou fora coisas demais, assim como os lençóis. só deixou no lugar o sentimento de dívida: agora ele me devia mais do que dinheiro.

acho que o mais difícil já foi, e é sempre difícil terminar alguma coisa, por mais que ela nem tenha começado. ainda mais quando tudo acontece assim, tudo de repente, tudo sem sentido, tudo invertido. todas as vontades convergiam pra que isso não tivesse acontecido. a gente queria outra coisa, e eu queria você. sempre quis. era você quem eu, literalmente, procurava, é você. eu gosto é do cheiro do teu cabelo cacheado, preso, solto. gosto do teu toque, do teu abraço, das suas caras e bocas, dos risos que você dá, e dos que você me faz dar; principalmente desses. fico pensando nessas coisas, daí me vem aquele você-deveria-ter-procurado-melhor, inconveniente, mas que faz questão de me lembrar que eu deveria mesmo. então bate o arrependimento, a vontade de desfazer, e de fazer tudo escondido, ou te propor uma fuga louca, sei lá, deixando tudo e todos pra trás, só pra não ter que esperar mais pra poder te dar um beijo. hahaha! tá! não precisamos fugir, tava brincando. mas a ideia de esperar realmente não agrada. longo prazo... falei, dá medo. planos a longo prazo assustam. não que não seja bom tê-los, mas não são esses os quais deveríamos ter. esses dão medo. medo de que não passem de um plano, de um sonho que se sonha só. estes não viram realidade. quando sonha junto, daí é realidade. então, pequena, não me faz esperar, e diz pra mim que a gente vai ser um par.

31 de março de 2010

esse jardim que não floresce nada, grama que não nasce desde que a pisou. teu campo é estéril. um tanto quanto histérico. regado a ferro e portas fechadas. desde que nasceram. e nascem? é um vandalismo às escuras, o que pratica. um soco no estômago de quem já não come há dias, de quem não sonha há tempos, de quem não ama há anos. eis o porquê.

secura assim tem de molhar. amargura assim vai findar. um rosto triste assim não pode. cadê o sorriso que tanto gosto? põe ele aí de novo. nunca mais eu vi.

quero ver respostas por aí afora. quero o lugar seguro melhor de outrora. quero mato e bicho ao meu redor. quero promessas desse mundo melhor. nunca pior. tenhamos dó, e não tenhamos medo do porvir. pensa no tudo que nem conhecemos solto por aí. pensa nas promessas que te fiz, naquele velho dom de ser feliz. e enxuga essa lágrima lisa. mesmo com o claro dos teus olhos, no teu rosto ela não combina. esse sorriso de canto é melhor, um começo.

19 de janeiro de 2010

nessas horas é ruim ser sozinho
quer ser comigo?

17 de janeiro de 2010

feito um só
feito dois, três, mas acho que faremos mais
inventaremos mais histórias, complementando
misturando línguas, misturando a minha na tua
feito nós
ela disse que eu tenho alguma coisa
alguma coisa que faz as coisas correrem muito rápido
algo parecido com ela, com gosto de maçã

ela pediu pra eu maltratá-la,
talvez assim não se apegasse tanto
mas por que evitar o apego, se é isso o que mais quero?
ela faz pedidos estranhos

eu a acordo cedo, dizendo minhas verdades
nuas e cruas, a exemplo de nós dois
ela abre um sorriso e volta a dormir
eu fico pensando em como ela me faz bem
horas a fio

cada um tem a musa que merece
graças a deos
sinto como se faltasse uma parte de mim, de tudo o que consegui ser neste curto tempo. me dá vontade de ir buscar, porque não tenho paciência de esperar. quero tudo ao mesmo tempo, desde que esse tempo seja já. se não for, não vou esperar, vou mudar os planos, as ideias. mudanças... metamorfoses, metalinguagem, metáforas. uma vírgula fora do lugar. disse que coragem não me falta. agora achei o motivo. afinal de contas, deu que nasci meio borboleta.
os móveis coloniais
dentro dos condomínios residenciais
as colônias
os enxames de abelhas
de pessoas
o enxame de pernas de cadeiras
36 horas acordado
compenetrado em todas as minhas confissões de embriagado
se um dia pensei ter agido errado
não foi desta vez

eu, profundo

pelo menos isso
pelo menos eu
pelo menos acho