18 de junho de 2009

O Amável Pavor de Ser Bom em Alguma Coisa

Tentando resistir ao sono, descubro que não tenho todos os sentidos e sentimentos sobre controle, assim como pensava.
Já sou imune a Brel, mas York, sem fazer nada, me arranca calafrios e orgasmos.
Eu nem quero controlar as coisas que sinto.
Não vejo o porquê disso, ou o porquê daquilo outro.
O porquê de eu estar de madrugada escrevendo coisas, nem o porquê de alguém querer lê-las.
Também não vejo o porquê de ver o porquê.
Vejo só o que está aos meus pés, tudo que me faz sentir vencedor, me faz sentir uma pessoa melhor, me faz sentir bem e à vontade.
Mas olhando bem, não tem nada aos meus pés. Não tem nada ali no chão que eu tanto pisei.
Talvez tivesse. Eu posso ter pisado em cima e nem percebi.

Mas sabe o que mais? Eu nunca percebi nada, essa que é a verdade.
Não percebi que eu cresci, que eu envelheci, que eu terminei o colégio, que eu não vejo mais os meus amigos.
Não percebi que eu perco 18 horas por dia em frente a uma bosta de um computador, que eu estou perdendo a visão, que eu estou perdendo o rumo das coisas, que eu perco chances e oportunidades, que eu estrago o meu corpo, que eu não cuido da casa, que eu não ajudo ninguém, que eu não sirvo pra nada...

- Pára!

Você está vendo isso?
Vê tudo isso e não me avisa por quê?

Está tarde, e eu preciso dormir.
Vou deitar e fritar o meu cérebro. Pensar em coisas que talvez eu devesse ter feito, ou em coisas que eu fiz e queria voltar atrás. Coisas que a gente não arruma, outras que a gente não quer arrumar.
Mas está tarde, e eu preciso dormir.
Enquanto apago as luzes, vou arrumar a minha cama e colocar um disco bom pra tocar.
Mas está tarde, e os vizinhos precisam dormir.
É melhor eu só ir deitar e pensar nas coisas que eu posso fazer quando for demitido.
No que posso fazer quando esquecer dos meus amigos, no que fazer quando eu estiver doido varrido.
Dá pra pensar melhor no que eu vou fazer quando estiver morto.

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